Cúmulo Material Obrigatório: Entre Rigor e Proporcionalidade
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Cúmulo Material Obrigatório: Entre Rigor e Proporcionalidade

Direito

O direito penal é uma área do ordenamento jurídico que visa proteger a sociedade e garantir a ordem por meio da punição de condutas consideradas lesivas. Dentre as diversas categorias de crimes, aqueles que atentam contra a liberdade pessoal do indivíduo ocupam uma posição de destaque. Neste contexto, é fundamental compreender o conceito de cúmulo material obrigatório, um importante princípio aplicado em certas situações que envolvem a combinação de crimes.

Crimes contra a liberdade pessoal

Antes de explorarmos o conceito de cúmulo material obrigatório, é essencial delinear o que são crimes contra a liberdade pessoal. Estes delitos envolvem condutas que, direta ou indiretamente, restringem a liberdade de locomoção ou privam a pessoa de sua autonomia. Dentre os exemplos mais comuns, temos:

  • Sequestro e cárcere privado

O sequestro e o cárcere privado constituem um dos exemplos mais ilustrativos de crimes contra a liberdade pessoal. Quando uma pessoa é privada de sua liberdade contra sua vontade, seja por meio de sequestro ou ao ser mantida em cativeiro, ocorre uma grave lesão aos direitos fundamentais do indivíduo.

Exemplo 1: Imagine uma empresária de sucesso que, por inveja, é sequestrada por um grupo de criminosos. Durante dias, ela fica confinada em um local remoto, sem qualquer possibilidade de comunicação com o mundo exterior.

Nesse caso, a liberdade pessoal da vítima é cerceada, caracterizando o crime de sequestro e cárcere privado.

  • Constrangimento ilegal

Outro exemplo de crime contra a liberdade pessoal é o constrangimento ilegal. Neste caso, a vítima é forçada a fazer algo contra sua vontade por meio de violência, grave ameaça ou qualquer outro meio que lhe cause medo ou constrangimento.

Exemplo 2: Um indivíduo, munido de uma arma de fogo, aborda uma pessoa na rua e a obriga a acompanhá-lo até o caixa eletrônico para sacar dinheiro e entregar a ele. A vítima, sentindo-se ameaçada, acata a ordem.

Aqui, temos um caso claro de constrangimento ilegal, uma vez que a liberdade da pessoa foi violada pelo uso da força e da ameaça.

O princípio do cúmulo material obrigatório

No sistema jurídico penal, existem situações em que a prática de múltiplos crimes implica a aplicação do princípio do cúmulo material obrigatório. Esse princípio estabelece que, em alguns casos específicos, a pena total deve ser determinada a partir da soma aritmética das penas individualmente aplicadas a cada crime, sem a possibilidade de unificação ou atenuação.

Exemplo 3: Um criminoso, em um ato delituoso único, pratica sequestro e roubo contra sua vítima. Posteriormente, ele é identificado, processado e condenado pelos dois crimes separadamente.

Ao aplicar o princípio do cúmulo material obrigatório, o juiz determina que a pena por sequestro e a pena por roubo devem ser somadas para chegar à pena total aplicada ao criminoso.

Exemplo 4: Em um contexto diferente, consideremos um caso em que um indivíduo comete crime de extorsão mediante sequestro (sequestro seguido de pedido de resgate) e, durante o cativeiro, também pratica estupro contra a vítima.

Nesse cenário, as penas pelos dois crimes devem ser somadas, uma vez que o princípio do cúmulo material obrigatório não permite a fusão ou absorção de uma infração pela outra.

Cúmulo Material Obrigatório Entre Rigor e Proporcionalidade 2

As controvérsias em torno do Cúmulo Material Obrigatório

Embora o princípio do cúmulo material obrigatório tenha sua relevância na busca pela justiça, ele também gera controvérsias e debates no campo do direito penal. Alguns questionamentos levantados por juristas e estudiosos incluem:

  • Rigidez na aplicação das penas

Uma das principais críticas ao cúmulo material obrigatório é a rigidez na aplicação das penas, especialmente em situações em que a justiça poderia ser mais bem alcançada com uma avaliação mais flexível das circunstâncias do caso. Algumas vezes, a soma aritmética das penas pode resultar em uma sentença desproporcional e excessivamente severa, deixando de levar em conta nuances e peculiaridades dos crimes cometidos.

Exemplo 5: Suponha que um indivíduo cometa, em um único ato, dois crimes: furto de um objeto de valor sentimental e dano ao patrimônio. De acordo com o cúmulo material obrigatório, as penas pelos dois crimes seriam somadas, mesmo que a conduta delitiva tenha sido praticada num mesmo contexto e não haja reincidência do autor.

Neste caso, uma abordagem mais flexível poderia resultar em uma punição mais justa e proporcional.

  • Supressão da individualização da pena

Outra crítica ao cúmulo material obrigatório é que ele pode levar à supressão da individualização da pena, um princípio fundamental do direito penal. A individualização busca adequar a punição ao perfil do criminoso e às circunstâncias do delito, visando à reintegração social e à ressocialização do condenado. Quando as penas são apenas somadas, perde-se a chance de adaptar a punição à realidade de cada infrator.

Exemplo 6: Imagine dois criminosos que cometeram um assalto em conjunto. Um deles possui um histórico criminal extenso, enquanto o outro é réu primário, não tendo praticado qualquer crime anteriormente.

Aplicando-se o cúmulo material obrigatório, ambos receberiam a mesma pena, ignorando-se a relevância da conduta criminosa passada de um dos autores e a possibilidade de ressocialização do réu primário.

Considerações Finais

Os crimes contra a liberdade pessoal são graves violações dos direitos individuais, e o direito penal tem o papel de punir essas condutas de acordo com a legislação vigente. Nesse contexto, o cúmulo material obrigatório é um princípio importante que busca garantir a coerência na aplicação das penas quando múltiplos delitos são cometidos em uma mesma ocasião.

Contudo, é imprescindível que o sistema jurídico também leve em conta as particularidades de cada caso, garantindo a justa punição e a individualização das penas. A busca pela proporcionalidade e a flexibilidade nas avaliações podem aprimorar o processo de aplicação da justiça, tornando-o mais eficiente e equânime.

Em última análise, a aplicação dos conceitos de crimes contra a liberdade pessoal e do cúmulo material obrigatório deve ser guiada pela busca pelo equilíbrio entre a proteção da sociedade e a garantia dos direitos fundamentais do indivíduo. Assim, o direito penal cumprirá seu papel na promoção de uma sociedade justa e segura para todos os cidadãos.

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About the Author

Me chamo Mariana Carvalho, sou advogada, professora de Direito e autora publicada pela Editora Juspodivm. Eu te ajudo a passar na OAB!

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